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domingo, 29 de janeiro de 2012

PAPO DE BANHEIRO

Quem me conhece, sabe que eu adoro banheiro. Eu avalio qualquer bar ou restaurante pelas condições do pedrinho. Se o pedrinho está convidativo e aconchegante, o lugar me ganha. Alguns são até humorísticos a partir da placa indicativa na porta.


Uma enorme letra eme amarela no horizonte de uma cidade, para mim, significa a localização de um oásis. Quer eu esteja em qualquer grande cidade brasileira ou em outros países, quando eu avisto um McDonald's, eu gravo mentalmente o endereço para quando precisar de um banheiro em condições de uso. Acabo consumindo uma coisa ou outra, seja em Paris, em Buenos Aires, em Los Angeles ou na Nova Zelândia, em retribuição. 


Onde existe um McDonald's significa que a civilização, tal qual a conheço, chegou ali. Me sinto seguro e em casa em um McDonald's, um lugar onde posso tomar um café sentado em Paris sem pagar mais por isso, por exemplo, mas isso é assunto para outro dia. Hoje, o papo é banheiro. 


Na faculdade onde leciono, eu procuro usar pedrinhos diferentes para variar a leitura atrás da porta. Se eu usar sempre o mesmo box, dos vários banheiros em todos os andares, eu vou limitar o meu conhecimento apenas às fofocas sobre aquela professora, aquela aluna piranha ou aquele funcionário corno. Afinal, numa universidade, a variação do destino do número 2 também é fonte de conhecimento. É uma mídia poderosa


Lá em Londrina, onde cursei Jornalismo, nós tínhamos mesmo um Jornal de Banheiro. As edições eram afixadas atrás das portas dos pedrinhos, com notícias diversas, recados, eventos e todo patrocinado, com anúncios de bares, escolas de línguas e sex shops. 


E era um jornal interativo. Os usuários do pedrinho rabiscavam coisas nele, pintavam bigodes e chifres nas fotos, escreviam xingamentos, obcenidades, escatologias. Todo mês a gente colava uma edição nova. Chegamos a incluir palavras-cruzadas e outros passatempos, já que havia demanda. 


Era um pedrinho livre e democrático, um locar de lazer e relaxamento. Um orgulho para Londrina. Mais íntimo que aquela tribuna ao ar livre que existe no centro de Curitiba, onde as pessoas podem subir e se estravazarem livremente (uma cópia do "people's corner" de Londres). 


Com tudo isso, eu preciso demonstrar a minha constante indignação com a indústria automobilística que nunca trouxe à Terra o conforto disponível no espaço desde a última década de 60 do milênio passado.


A corrida espacial entre russos e americanos nos rendeu, ao nível do chão, o velcro, o teflon, o sistema GPS e mais um monte de inovações tecnológicas, mas, quando eu estou em um congestionamento de duas horas nas ruas de São Paulo, o que acontece com frequência, fico me perguntando por que eu não tenho o que os astronautas têm. 


O automóvel não saiu do básico desde que foi inventado: tem quatro horas, um motor, um teto e quem dirige fica sentado... e apertado para ir ao banheiro. Os astronautas não precisam parar o foguete em um posto da estrada ou em um McDonald's em órbita para aliviar a bexiga nem o número2. Pilotos de aviões de combate também têm acesso a dispositivo similar, disponível desde o projeto Mercury, que levou John Glenn ao espaço em órbita da Terra, em 1962. Depois teve o Projeto Gemini, o Apollo e os ônibus espaciais, isso só do lado da NASA. Talvez o russo Yuri Gagarin, o primeiro ser humano no espaço, em 1961, tenha sido também o primeiro a ver Boston fora da Terra, embora se saiba pouco sobre isso, pois os soviéticos eram super secretos e tomavam o maior cuidado para os americanos não verem Chicago da estratosfera antes deles.


Passaram-se 50 anos, meio século, e nada: o carro tem air bag, GPS, câmbio automático, freio ABS, motor flex, pneu radial, mais isso, mais aquilo outro, mas banheiro... necas de pitibiriba! Absurdo! Deve ser uma conspiração internacional, um lobby dos donos de postos de estrada em conluio com o McDonald's. 


Agora imagine: assim como hoje você entra no carro e coloca seu cinto de segurança, o motorista e cada passageiro do veículo poderiam "encaixar" também seus DDCs (Dutos de Dejetos Comburentes) e mandar brasa com o carro em movimento, sem parar. As extremidades dos DDCs seriam personalizadas e pessoais para cada usuário, para o pai, para o filho, para a filha, para a mãe, para a avó, para o bebê na cadeirinha e até para o Totó. 


Além disso, o reservatório de todos os dejetos produzidos, localizado sob o chassis, com alguma adaptação a cargo dos engenheiros de motores, poderia ser o próprio tanque de combustível do carro. Não seria impossível: o gás resultante da fermentação das fezes (só não sei se é metano ou butano, não tô lembrano) queima com fósforo, então é comburente. 


E a última tecnologia de motores, atualmente, para uso de biodiesel, precisa da adição de um aditivo à base de uréia. Ora, de onde vem a uréia? Da urina. Então, ali debaixo do carro teria matéria-prima, direto da fonte para o consumidor, só falta os engenheiros descobrirem como otimizarem a questão. Mas isso é só um detalhe.


A família privilegiaria alimentos como batata-doce, repolho e feijão, beberia bastante cerveja e pronto! Iria viajar com o abastecimento do próprio veículo garantido, em movimento. Isso sim é sustentabilidade.


Existe mais um aspecto que não pode ser negligenciado: o prazer. Além do alívio físico e do óbvio conforto, uma boa parte do stress em decorrência dos longos congestionamentos no trânsito das grandes cidades poderia ser combatido com a inclusão de vibradores nas extremidades. Seria um opcional, claro. 


Mas, imagine quantas novas possibilidades de presentear seriam criadas. Impulsionaria a economia. Além de perfumes, jóias, roupas, calçados, eletrônicos, livros, midia em áudio e vídeo, as pessoas poderiam ganhar de presente nos aniversários, natais e que tais, estojos personalizados com seus conectores em formatos, cores, texturas e funções de sua preferência.


Isso sim promoveria uma revolução no trânsito e nas estradas, sairíamos da mesmície. Hoje em dia, depois da invenção das quatro rodas, o máximo em que se ousa é no nome. Os chineses trouxeram a Chana deles para o Brasil, que ousadia. A caminhonetinha é até legal e atende a um nicho de necessidade de transporte. Os asiáticos não estão nem aí se o nome dos veículos deles coincide com algum significado cacofônico. Só querem vender e pronto. Lembra da Besta dos coreanos?


Não resisti e tirei essa foto de um veículo estacionado numa rua do centro de São Paulo: o cristão bem que tentou colar um adesivo de "Jesus" por cima para neutralizar o efeito da Chana chinesa.
Quando eu morei nos Estados Unidos, no final dos anos 1970, minha vizinha tinha um Pinto verde. Carregava todo mundo no Pinto, mandava lavar o Pinto, trocava o óleo do Pinto, engraxava o Pinto, calibrava o Pinto e encaixava o Pinto em qualquer lugar, pois era fácil manobrá-lo. O Ford Pinto tinha o formato de um "maverickezinho", do tamanho de um Gol atual.


Os americanos nunca lançaram o Pinto deles aqui no Brasil. Talvez se preocupassem com o nome, coisa que os chineses não ligam. Se a Ford tivesse pelo menos tentado, poderia rebatizá-lo aqui de Galo, o que não deixa de ser um pinto grande. E galo, lá nos Estados Unidos, é "cock", e aí sim é pinto para eles. Então estaria empatado.


Imagine se o Tony Ramos usasse a Chana da Gloria Pires, e ela, o Pinto dele! Daria filme.



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