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terça-feira, 23 de outubro de 2012

ATENÇÃO!!

Que o amor, que nada. Talvez a "commodity" de maior valor depois da própria vida e do tempo, seja a atenção. Todo mundo quer. Neste instante, eu quero a sua. Meu gato quer a minha, meu filho, minha esposa, minha filha, minha mãe, também. 

O sujeito na televisão também, o candidato a prefeito de São Paulo, até o papa se esforça, fala em várias línguas, coloca roupas novas, perfume bacana, para sair bem na foto e também ser ouvido. 

As pessoas desfilam de carro novo, roupa nova, pintam a boca, penduram uma melancia no pescoço, porque querem chamar atenção. O pavão abre o leque no rabo, o macaco pula e grita, porque quer atenção. As mulheres colocam decotão e as pernas de fora porque querem... OK, você já captou minha ideia.

Zilhões de pessoas olham diariamente as tais redes sociais, e postam fotos, mensagens, cutucam, compartilham e meio que acenam desesperadas "olha eu aqui!!!" Eu confesso que entro em verdadeiro pânico se não troco pelo menos um "oi" semanalmente, diariamente, várias vezes por dia, minuto a minuto, com algumas pessoas e bichos que considero especiais.



Vai daí que fiquei impressionado com a ponta de um documentário que assistir outro dia (eu estava visitando minha filha e ela já estava assistindo TV, eu peguei de relance um pedaço). Por favor, perdoe a imprecisão da informação que lhe passo, mas o caso era mais ou menos o seguinte: dois cientistas, de algum lugar do planeta, descobriram que as plantas sentem!

Eles fizeram o seguinte: conectaram uma planta a um detector de mentiras, como aqueles de filmes policiais. A planta estava ligada á máquina por sensores e fiozinhos. Então eles acariciaram a planta, xingaram a planta, mandaram pensamentos de todo calibre e nada, nenhuma alteração no monitor da máquina, só aquele traço contínuo na tela _________. Aí, um deles pegou uma tesoura... Só de fazer isso, nesse exato instante, o cursor na tela deu um pico! Foi lá em cima! A planta se sentiu ameaçada! Sentiu a hostilidade!

Então, o cientista concretizou a tortura: cortou uma folha. Novamente, a reação foi um pico na tela. Espantado, tanto quanto eu, ele não fez mais maldade nenhuma com a planta e o curso voltou a ficar estável, um traço contínuo horizontal, mas... tcham tcham tcham tcham, em um nível acima do anterior. Ou seja, a a planta não estava mais tranquila como antes e agora ainda tinha um dodói. A planta se estressou! Não é incrível? Você esperava descobrir isso no terceiro milênio? A descoberta muda muita coisa.

Quando eu comentei essas minhas impressões com algumas pessoas, elas se lembraram que tinham visto uma reportagem sobre algum vinhedo, em algum lugar, que os cultivadores colocavam música clássica para os pés de uva escutarem, para as frutas saírem doces e darem bons vinhos.


Cada um chama a atenção como pode.
A Lady Di reclamava que seu marido, o príncipe Charles, dava mais atenção às plantas do que à ela. Dizia que ele falava com as plantas de sua propriedade na Escócia. A primeira parte da queixa procede. Realmente, a princesa não merecia ser deixada na mão. A segunda parte, agora comprovada, também procede. Ora, ele não é futuro rei do Reino Unido apenas por seus belos olhos, ele sabe, é sensível, conhece seus súditos, já sabia que as plantas têm sentimentos, também querem atenção.

Eu sei disso desde que plantava morangos ao redor da casa, lá em Nova Granada, na minha adolescência. Os morangos ficam vermelhões para chamar a atenção. A única missão daquela plantinha rasteira é se espalhar pela Terra, debaixo de chantilly, em recheio de tortas ou onde quer que seja. Para atingir seus objetivos, ela tem que usar de todos os truques disponíveis em seu arsenal para se espalhar pelo chão. Aí ela cria um falso fruto para conseguir seu intento. 

Aquela coisinha linda e deliciosa não é uma fruta, sabia disso? Botanicamente falando, todos os requisitos para algo ser chamado de fruto estão contidos naquilo que pensamos ser as sementinhas. Se aquele concentrado de sementes surge da planta diretamente em contato com a terra, nem se dá ao trabalho de ficar vermelho: já se enfia na terra e faz brotar outras plantinha. Literalmente, moranguinho quando nasce, esparrama pelo chão. Se nasce para em cima das folhas, aí sim, precisa ficar vistoso para chamar a atenção de passarinhos e outros animais. Quando os animais comem a polpa colorida, deixam cair ou defecam sementes, cumprindo a meta da planta, que é se espalhar pelo mundo. 



Eu sempre tive um desconforto diante de flores fora das plantas, muito antes de sequer suspeitar que as plantas sentem. Eu nunca dei flores para uma namorada. Dava vaso com planta com flores, para ela cuidar, regar, tratar com carinho e ser retribuída com flores, como se fosse um pet. 

Atualmente, em casa, temos uma laranjeira em um vaso. É a Larissa, a Laranjeira (se fosse uma palmeira, poderia ser Paula, se fosse um limoeiro, poderia ser Lino). Larissa é como um membro da família: gente dá carinho e ela retribui com um perfume de laranja na sacada do apartamento.

Kiko e Larissa convivem bem em família.
Eu sempre achei que arrancar as flores das plantas fosse semelhante a cortar o nariz da minha esposa, que eu acho fofo, para adornar a lapela do meu paletó ou ela arrancar um dedo da mão do nosso filho para enfeitar o cabelo dela. Flor arrancada da planta me lembra velório, enterro, morte. Mesmo um ramalhete de rosas dentro de um vaso com água, me passa uma agonia, um sofrimento, um prolongamento de dor. As rosas vão morrer e isso só foi adiado um pouco.

Os judeus, por exemplo, têm o costume de não dar flores. As suas amadas ganham pedras. Cemitérios israelitas não têm floriculturas por perto. Eles depositam uma pedra no túmulo de seus entes queridos. A pedra é eterna, a flor é efêmera, murcha e apodrece.

Agora, imagina a revolução que a experiência do detector de mentiras representa? Se as plantas sentem dor, o que não faz uma serra-elétrica? Chengo-delengo-tengo (leia "Rosinha, Minha Canoa", de José Mauro de Vasconcelos)! A experiência dos cientistas precisa ser expandida. Pode ser que, nem tudo seja dor. Os morangos, por exemplo, como eu expliquei, querem ser comidos, faz parte do plano expansionista da planta. 

Podemos supor que, determinadas partes das plantas, como flores e frutos, sejam como nossas unhas e cabelos, que precisam ser contados periodicamente sem implicar em dor. Talvez as plantas usem as flores e frutos, intencionalmente, há trilhões de anos, para chamar atenção. Depois dessa descoberta, existe um mundo a ser revisto. Comece dizendo olá para uma árvore hoje no seu caminho. Preste atenção.