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terça-feira, 12 de abril de 2011

Zorro, Batman, Homem-Aranha, Spock, Xena: a evolução da espécie

Deveria ter escrito no título “a evolução do espécime”, no caso, eu, um membro da espécie humana. Como não tenho tempo de pesquisar todo mundo, vou escrever só da minha evolução, a parte da espécie humana que me diz respeito, uma pequena amostra do todo, o microcosmo do macrocosmo. Essa última parte da frase deu um certo ar de estudo científico.

Pois o Zorro foi minha primeira referência, na infância. Tanto que desenhei, talvez aos 5 ou 6 anos de idade, meu pai, com máscara de Zorro e chapéu, montado no meu cavalinho de cabo-de-vassoura. Meus heróis. Meu pai me comprava os gibis do Zorro e eu vivia confuso, pois ora o Zorro tinha cavalo preto, espada e capa e vivia em Los Angeles e, em outras revistas, tinha cavalo branco, revólver com balas de prata e patrulhava no Texas. Não é fácil ser fã brasileiro, mesmo mirim. Só muito recentemente desfiz essa confusão mental, e olha que poderia ter me gerado um trauma, coisa para analista, regressão de idade, essas coisas. Tive sorte, o Batman me salvou. Mas vamos voltar aos Zorros só mais um pouquinho.

O Dom Diego de la Vega era rico, ganhava mesada do pai, Dom Alejandro, que lhe custeou os estudos na Europa. Não precisava trabalhar, mas resolveu se vestir de preto e pular, à noite, de telhado em telhado para defender El Pueblo de Nuestra Señora La Reina Los Angeles de Porciúncula. Era uma vida secreta e o amigo dele, o Bernardo, não contava nada para ninguém, porque era mudo. Era um cara muito esperto e era chamado de “zorro” pelo povo da Califórnia, que quer dizer “raposa” em espanhol. O personagem foi criado, em 1919, pelo escritor norte-americano, Johnston McCulley.

O outro sujeito mascarado, que no Brasil também era vendido como “Zorro”, de chapéu branco e cavalo branco chamado Silver (prata, em inglês) era, na verdade, o “Lone Ranger” (Patrulheiro Solitário) e andava pelo Texas em uma época muito depois do outro, quando a região toda já pertencia aos Estados Unidos e não mais à Espanha, como resultado de uma guerra. O personagem foi criado, em 1933, por George Trendle e Fran Striker, para um programa de rádio da cidade de Detroit, estado do Michigan.

A confusão, no Brasil, é tanta que, até hoje muita gente jura que o nome do cavalo do Zorro era Silver. Mas “Aiôu, Silver!” quem gritava era o texano, que nunca mostrou sua identidade secreta. Ele também era rico e tinha uma mina de prata. Também não precisava trabalhar, vivia da renda da mina, onde tinha empregados. As balas dos seus revólveres (ele tinha dois e atirava com ambas as mãos) eram de prata e isso distinguia seus tiros dos de outras pessoas, embora ele atirasse muito pouco, por ser contra a violência e, lógico, seus tiros custarem muito mais caro. Seu amigo, numa época em que não havia o patrulhamento do politicamente correto, era o índio Tonto. Hoje em dia, não seria possível chamar um índio assim.

Tanto em um caso quanto no outro, eram solitários. O segundo, já tinha a palavra no sobrenome. Um amigo mudo ou um índio Tonto não aliviavam o fato. Então eu cheguei ao Batman. Não só eu, mas o próprio criador do herói, Bob Kane, declarou que se inspirou no Zorro para criá-lo em 1939. O Batman também tem máscara e capa, salta pelos telhados da cidade, defende o povo contra os malfeitores e, o seu alter ego, Bruce Wayne, é rico. Ao invés de cavalo, batmóvel, bat-helicóptero, bat-plano e tudo o que quisesse. Mas também vivia uma vida secreta e era notívago, introspectivo, observando a vida lá embaixo, do alto de algum prédio.

Eu sempre gostei de vagar pela noite, era filho único e desenvolvi o costume de subir na casa e sentar no telhado, à noite, para refletir nas coisas, lunático que sempre fui, ou levava o violão para tocar sentado sobre algum túmulo do cemitério de Nova Granada (SP). Um dia, conheci o Homem-Aranha, acho que não foi no cemitério de Nova Granada, mas com meu amigo Adel (hoje, vice-prefeito de Jacareí), esse era nosso “elo de ligação” (discordo que este seja um caso de pleonasmo: há elos sem ligação, como o Serra e o Kassab ou o Alkmin e o Afif) e hoje é o meu filho Rodrigo, o menino-aranha, que ganhou o nome por insistência do Adel, que tem um filho homô(ops)nimo.

O super-poder “dos Zorros” ou do Batman era a riqueza. Spider-Man, criado por Stan Lee e Steve Ditko, em 1962, não é rico, muito pelo contrário, é um garoto miserável. Tanto que foi picado por um inseto radioativo. Como comparação, um super-herói brasileiro seria picado pelo aedes egypt e contrairia dengue tipo 4. O maior super-poder do Homem-Aranha, no entanto, e foi o que eu introjetei na minha personalidade, é ser tagarela, falar bobagem pelos cotovelos, com muito sarcasmo e ironia, mantendo o bom humor até nas piores situações, irritando seus oponentes. Eu detonei meu primeiro casamento com esse super-poder. É um tique nervoso que se transforma em um mecanismo de defesa, uma arma para manter a adrenalina fluindo. Quando ele tira a máscara, vira o Peter Parker tímido, deprimido, chato, foto-jornalista freelance e entregador de pizza, sempre na pendura, literalmente, e... solitário. Até se casar com a Mary Jane, talvez.

De todos os meus heróis, o Aranha é sempre “atual”. Spock está no futuro. Um futuro em que não há mais guerras, doenças e nem dinheiro. Não só o planeta Terra tem um governo único, como participa de uma federação de planetas, uma espécie de ONU planetária da paz. Uma utopia quase total. O criador de Jornada nas Estrelas (“Star Trek”), em 1964, Gene Roddenberry, no entanto, dizia que não tinha a intenção de fazer ficção científica, mas uma produção sobre relacionamento humano: tanto fazia o cenário ser a astronave Enterprise, um escritório comercial ou a Casa dos Artistas. É o BBB do espaço, então, é a respeito de como os seres humanos reagem a longos períodos de convivência.

O estranho no ninho é o Spock, que não é humano. E só não se sente solitário e deslocado porque não tem sentimentos, ou pelo menos luta contra eles. Spock é o cérebro, a lógica, a razão dominando a emoção, o acúmulo de conhecimento, a exatidão. Eu uso direto uma fivela com o rosto do Spock gravado. Eu troco o cinto há anos, mantendo sempre a mesma fivela. Eu chamo o “Spock” dentro de mim, meu lado lógico, quando preciso encontrar uma solução. Meu amigo Marcelo diz que eu tomo decisões vulcanas.

Mas o Spock também é ingênuo, quase infantil, não tem a malícia, a ginga dos humanos. E, conforme a tradição de todos da sua espécie, os vulcanos, ele só transa a cada sete anos, o que é uma frequência inferior a de muitos fãs da série, os trekkers. Um dos motivos talvez seja a quase inexistência de fêmeas da espécie, ou seja, mulheres trekkers. São jóias raríssimas. A dificuldade da maioria das mulheres em entender ficção científica é muito superior ao interesse dos homens pelas novelas de televisão.

O ator que encarnou o papel, Leonard Nimoy, virou ícone dos fãs de ficção científica, mas escreveu um livro (“Eu Não Sou Spock”) em que tentava se livrar do personagem, para ser lembrado para outras coisas na vida. Tempos depois, jogou a toalha, e reescreveu o livro (“Eu Sou Spock”) quando caiu a ficha que era assim que seria sempre lembrado. Além desse conflito de personalidade, foi ilógico e fumou a vida toda, ao ponto de, sendo quatro dias mais novo que seu colega William Shatner, o “Capitão Kirk”, parece bem mais velho enquanto o outro ainda esbanja saúde e atua em série própria de televisão.

Xena foi inventada pelo próprio marido. Ou melhor, a atriz que a interpretou, Lucy Lawless, se casou, durante a realização da série, com o produtor do programa desde 1997, e teve dois filhos com ele. Um dos meninos foi gestado ao longo de vários episódios do quinto ano da série: a personagem Xena teve que ficar grávida também em cena para incluir a barriga verdadeira no figurino. Lucy e Robert Tabert, os dois meninos e a filha do primeiro casamento dela, continuam morando em um paraíso chamado Nova Zelândia (apesar de eventuais terremotos ou vulcões), de onde ela é natural e onde a série foi filmada (fazendo de conta que era a Grécia) como sequência de outra série, Hércules, também feita lá pelo Robert Tapert e seu amigo de infância, Sam Raimi (que dirigiu os três filmes do Homem-Aranha).


Lucy é uma mulher e mãe exemplar em seu país, encarnando campanhas filantrópicas variadas, como a de incentivo à amamentação infantil e fazendo parte do conselho do Starship Hospital, hospital infantil de Auckland, ao mesmo tempo que se dedica à carreira paralela de cantora de voz fantástica. Atualmente, empresta seu corpão e cabelos, agora ruivos, à personagem Lucrécia na nova série produzida e dirigida pelo marido, “Spartacus”.

Xena, ao contrário do Spock, é intuição pura. Ela é quente, é animal, é sensual. É muita emoção. Eternamente tem que expurgar seu íntimo sombrio, consertar o passado. E conseguiu nunca se sentir sozinha, nem morta. Além de ter encontrado alguém que a complete em vida, tem todos os deuses do Olimpo para lhe fazer companhia eterna, especialmente o da guerra, Ares.

O que eu aprendi assistindo a série causou um rebuliço na minha vida nos últimos onze anos e eu carrego um pingente num cordão, no meu pescoço, relativo a ela, desde então. Xena mudou minha vida. Foi um furacão. Frases memoráveis da série ecoam na minha cabeça sempre que eu preciso delas. É minha Xena interior que eu evoco na batalha do dia a dia em São Paulo, talvez o mais “macho” dos meus heróis, todos muito sensíveis, muito complicados. Ela descomplica, sobe nas tamancas, saca a espada, grita e dá uma cambalhota.

Na verdade, diariamente, eu sou um pouco de cada. Chamo o Spock para usar a cabeça, uso a Xena para ter energia e vivacidade, deixo o Homem-Aranha fazer gracinhas como mecanismo de afirmação e dirijo solitário meu batmóvel, tarde da noite, quase todos os dias. Deixo aqui uma análise bem encaminhada para qualquer terapeuta um dia ter menos trabalho, ou uma bula para minha atual esposa.

É evidente que não é só isso. Nenhum dos assuntos se esgotam aqui. De onde saíram essas abobrinhas há uma horta esperando para ser colhida.

Vida longa e próspera, pelos deuses.

4 comentários:

  1. Vc é uma mistura de Spock, Xena, Homem-Aranha e Batman ?? Vc é um ser complexo, hein ??

    abraço
    Tan

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    1. Como dizia minha mãe: "meu filho, você é muito complicado, mulher nenhuma vai te aguentar". Tô na terceira.

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  2. Oi Ralfo,
    sou sua aluna de PP na Estácio, mas isso não é importante hehehe...
    Só quero dizer que adorei o blog e serei presença constante aqui, sou rata de blogs estilo "no sense", comento em vários, porque os assuntos que tecnicamente não nos levam a lugar nenhum são os que mais me agradam.
    Então, heróis né... bom, você conheceu alguns deles através de gibis, eu os conheci somente atráves da TV ou do cinema como é o caso do Homem-aranha, adoro super-heróis mas acho que o que mais cativa nessas histórias é a humanidade de cada um deles, acho também que um herói tem por obrigação ser bonito e charmoso hahaha... tem sim. Demorei anos para descobrir meu herói favorito, encontrei finalmente, talvez você como bom admirador de seriados saiba quem é, Dean Winchester, da série Supernatural... ele não tem super poderes mas quem liga? ele tem a humanidade que eu tanto gosto e esse lance de ser irritante, usar sarcásmo e ironia em momentos indevidos. .. Aliás a história de Supernatural apesar de não parecer é linda, indico sempre que posso.
    Enfim, chega rsrs... parabéns pelo blog e continua firme e forte teacher.

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  3. O cara é lindão mesmo, né? rsrs

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