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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

DONALD TRUMP X CACARECO X CIRO GOMES

Muita gente anda comparando o Donald Trump com políticos de direita ou extrema direita aqui do Brasil. Não vou citar nomes para não poluir o ciberespaço. O que eu acho é que isso é uma sacanagem com o Trump e nem ele merece. Ele até tem pontos positivos e os daqui, nenhum.


INÉDITO: depois dos americanos fazerem história e elegerem o primeiro semi-afrodescendente (já que a mãe do Barack Hussein Obama era W.A.S.P.*) para a presidência, eles acabam de inovar mais uma vez. Pela primeira vez a primeira-dama não nasceu nos Estados Unidos. Melania, ex modelo, hoje com 46 anos (24 de diferença do marido), nasceu quando seu país ainda se chamava Iugoslávia, hoje Eslovênia. O nome dela, originalmente, era Melania Knavs, mas mudou para Knauss, germanizado para harmonizar com Trump (o avô do Donald foi imigrante ilegal nos EUA, vindo da Alemanha) e agora assina Melania Knauss-Trump. Ela será a 47ª "first lady". Além do esloveno e do inglês, ela fala também alemão, francês e sérvio fluentemente. Os conservadores que elegeram o marido dela devem estar "excited". (*WASP= White Anglo Saxon Protestant)

Outra coisa: não acho que o Trump tenha sido eleito por ele ser de direita. Acho que ele nem sabe o que é isso. E nem quem votou nele. Afinal, lá não há opção. A Hillary também é de direita, todo mundo é. It's the American Way of Life. 

E eu acho que o povão votou foi contra isso aí. Não contra a Hillary, nem contra o Obama, mas tudo. Como diria um nobre senador de Roraima, essa porra toda! O voto no Trump foi o voto do contra, o voto de protesto. 

É possível até que uma parte dos eleitores do Bernie Sanders (que teria sido a minha escolha), o primeiro candidato declaradamente um socialista democrata, tenham se aliviado no Trump, o que parece ser uma incoerência.


Em 1959 (quando nasci) o povo da cidade de São Paulo votou no rinoceronte Cacareco (do zoológico da cidade), para vereador. A cédula do voto era um papel em que as pessoas escreviam o nome do candidato e enfiavam na urna. Cacareco foi o mais votado e teve cerca de 100 mil votos. O total de votos do partido mais votado não chegou a 95 mil. Cacareco foi lançado candidato pelo jornalista Itaboraí Martins em protesto pelo baixo nível dos outros 450 concorrentes. 


Não é uma pena que hoje não possamos escrever o nome do candidato na cédula de votação? Foi um episódio célebre e virou referência para análises de votos nulos e de protesto. 
Mesmo eleitíssimo, o bicho não tomou posse, talvez por existir a cláusula que precisa ser alfabetizado. Mas foi homenageado com um brinquedo da Estrela, nos bons tempos em que essas coisas eram feitas no bairro do Belém, em São Paulo. Não acendia luzes, não mexia nada, não precisava de pilha nem bateria, mas tinha um apito interno, só isso. Maravilhoso, não é? Honesto.


Na minha modesta opinião, Sanders cometeu o erro de insistir em disputar uma vaga como candidato do partido Democrata, quando poderia ter continuado a concorrer a eleição como candidato Independente.  

Esta eleição foi atípica de tudo. Trump peitou o partido Republicano inteiro para ser candidato. Só 25% do partido o apoiava. Os medalhões do partido lhe viraram as costas. McCain e Mitt Romney não lhe deram uma palavra de apoio e os Bush tinham candidato próprio, o Jeb Bush, governador da Coxinholândia (Flórida). Trump arrombou a festa dos Republicanos. Encaçapou todos os outros disputantes à vaga nas primárias. E ganhou. Ele poderia ter ganhado sem o partido, não fez diferença nenhuma. Quem ganhou foi o Trump, não o partido Republicano, que torceu o nariz para o candidato o tempo todo.



Hillary Clinton tinha o apoio do sistema financeiro, recebeu US$ 1 bilhão de donativos para sua campanha dos banqueiros de Wall Street, teve apoio total e descarado da mídia (CNN, The New York Times etc) e do mundo inteiro (da Europa, do Brasil, da Ásia, da Oceania... talvez até de Marte!) e de Hollywood em peso! Não tinha como Sanders concorrer com isso e disputar a vaga no partido Democrata. Mesmo assim, ele cresceu, encostou, ameaçou e assustou.

A disputa interna foi tão "sangrenta" que, quando Sanders reconheceu a derrota e pediu a seus eleitores que votassem na Hillary, ela se tornou intragável para muitos deles. Como lá o voto não é obrigatório, ou os eleitores de Sanders não saíram de casa para votar ou, por ódio a Hillary, votaram no Trump. 

Hillary venceu, no voto popular, com 206 mil votos a mais do que Trump. Se fosse no Brasil, estaria eleita. Mas lá não é isso que conta. A eleição "na maior democracia do mundo" é, na verdade, indireta. O povo, voluntariamente, em cada estado, elege "delegados" e o voto desses delegados é que conta. 

Somente em 1988 (ano em que entrou em vigor a Constituição que deveria estar valendo hoje) a progressista cidade do Rio de Janeiro se equiparou à capital paulista e votou, para o cargo de prefeito, no macaco Tião. O chimpanzé do zoológico do Rio recebeu mais de 400 mil votos, ficando em terceiro lugar entre 12 candidatos.


A "candidatura" foi lançada pela revista Casseta Popular e o fato foi registrado no Guinness World Records como o chimpanzé que recebeu mais votos no mundo. Era famoso por ser "mal-humorado" no zoológico e jogava cocô e lama em visitantes, especialmente em políticos (como, por exemplo, Marcello Alencar). Nasceu em 1963 e morreu, de diabetes, em 1996, aos 34 anos. Foi decretado luto oficial de três dias na cidade e as bandeiras do zoológico foram hasteadas a meio pau. Até o jornal francês Le Monde deu a notícia. Uma estátua dele hoje, no zoológico, ainda alegra os cariocas.

Cada um a seu modo, tanto Sanders quanto Trump atraíam a atenção dos descontentes com "o sistema". Hillary era a herdeira do sistema. Por isso, na minha modestíssima opinião, de maneira inusitada, nem Sanders nem Trump precisariam dos partidos Democrata ou Republicano, dos quais o americano médio, distante das regiões cosmopolitas, aquele que perdeu postos de trabalho para a China e a atenção social do Estado desde 1970 (sob Nixon, depois exponenciado pelo neoliberalismo e globalização promovidos por Reagan nos anos 1980) anda farto.

Parece que os dois partidos se esgotaram. Os EUA tem 80 partidos, incluindo o partido Comunista.




TRUMPINHO PAZ E AMOR: Agora que foi eleito, Trump precisa conter a boca para tentar costurar as feridas abertas no País durante a campanha. Se engana quem acha que ele nunca foi político. Antes de 1987 ele já era filiado ao partido Democrata. Aí, mudou-se para o Republicano, onde ficou até 1999, quando foi para o partido da Reforma, sendo candidato à presidência. Em 2001, voltou para o Democrata. Em 2009, mudou-se novamente para o partido Republicano. Entre 2011 e 2012, bateu ponto no partido Independente, depois voltou ao Republicano, onde conseguiu permanecer até agora. Além dos negócios imobiliários, ele recebe mais de US$ 110 mil ao ano de pensão por  participações em 12 filmes de cinema e 14 séries de TV. Ele também tem o próprio programa diário de rádio chamado "Trumped". Entre 1991 e 2009, alguns de seus hotéis e cassinos declararam falência seis vezes. Ele disse à revista Newsweek que usa a lei da falência como ferramenta para renegociar e cortar dívidas.

METRALHADORA GIRATÓRIA: Ciro Gomes tem dito que seus assessores lhe pedem para conter a boca, para poder costurar sua candidatura. Ganhou sua primeira eleição pelo PDS, em 1982, para deputado estadual do Ceará e mudou de partido logo em seguida, para o PMDB, e se reelegeu, em 1986. Foi um dos fundadores do PSDB, em 1988, e se elegeu prefeito de Fortaleza. Dois anos depois, se elegeu governador do Ceará e ficou no cargo entre 1991 e 1994. Saiu para ser Ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco. Em 1996, entrou para o PPS (antigo Partido Comunista Brasileiro) e foi candidato à Presidência, em 1998 (o terceiro mais votado) e em 2002 (ficou em quarto lugar). Foi Ministro da Integração Nacional de Lula e depois renunciou em 2006 para se candidatar a deputado federal do Ceará pelo PSB. Foi eleito e proporcionalmente o mais votado do Brasil, com 16,19% dos votos.  Em 2013 foi nomeado Secretário da Saúde do Ceará. Em fevereiro de 2015, foi contratado diretor da Transnordestina Logística (que constrói uma ferrovia ligando o porto do Ceará ao porto de Pernambuco) e saiu do PSB e entrou no PROS. No mesmo ano, em setembro, sai do PROS e entra pro PDT e diz ser candidato à Presidência.


Algumas pesquisas apontavam que se a disputa eleitoral fosse entre Trump e Sanders, Sanders venceria folgadamente. As mesmas pesquisas, hoje inconformadas, que apontavam a vitória, ainda que mais apertada, de Hillary. A única pesquisa que mostrou a realidade em vez de torcida, foi a do jornal Los Angeles Times/USC: quando o resultado da pesquisa foi divulgado em agosto, apontando a vitória de Trump, causou indignação, principalmente entre seus leitores da Califórnia. Mas acertou.

Qual o problema do Trump? Ele implodiu os Estados Unidos da América e o mundo conforme o conhecíamos. Ele falou contra os mexicanos, contra os imigrantes, contra os muçulmanos, contra os chineses, causou indignação geral entre os mais esclarecidos, os intelectuais, a mídia, os banqueiros, a ONU, o Vaticano... e o meião do país adorou.

Fazia tempo que eles se sentiam esquecidos. Pra todo lado a moda é campanha pelos direitos dos negros, das mulheres, dos negros, dos LGBTS, pró casamento gay, liberação da maconha, salvação das baleias, dos ursos polares... Mas e os caipiras? Estavam se sentindo excluídos. Os brancos pobres conservadores e ignorantes mostraram que têm a força! E isso assusta o mundo!  

Uma frase atribuída a Nelson Rodrigues afirma que "os idiotas dominarão o mundo, por serem maioria". É uma força poderosa que põe medo aos que se lembram do que foi produzido na Alemanha, na Itália, no Japão e outros lugares e está vivíssima hoje em várias partes do mundo.

Quem acompanhou a disputa feroz e o bate boca entre Trump e Hillary durante a campanha eleitoral de um ano de meio (enquanto no Brasil dura só 45 dias!) pode ficar espantado em saber que há apenas 11 anos, em janeiro de 2005, o casal Clinton era convidado ao terceiro casamento dele. É tudo show business.


Durante a campanha da primeira eleição do Obama e parte do seu primeiro mandato, Trump insistiu que Barack não podia ser presidente por não ter nascido nos Estados Unidos. Trump dizia que Obama era queniano como seu pai. Isso alimentou a oposição. Só depois de muito tempo e diz-que-diz em programas de Tv e rádio, que Barack Hussein Obama mostrou ao mundo a sua certidão de nascimento no Hawaii, o 50º estado americano (desde 1959). Agora, Trump diz que ser recebido pelo Obama na Casa Branca "foi uma honra e a conversa poderia ter durado muito mais que uma hora e meia". 

Em um aspecto a eleição do Trump guarda paralelo com o que aconteceu aqui com a eleição do Dória e do Crivella. O povão pobre elegeu um branco rico. Mas aqui esse eleitorado foi multicolorido. Lá nos EUA, os latinos, os muçulmanos, os negros, os gays etc, pobres ou não, obviamente, tentaram eleger quem não lhes prometia o mal.

E olha que os negros não viram vantagem nenhuma em terem um negro na presidência. Eles são o principal alvo da polícia, igualzinho aqui. E são quase a totalidade da população carcerária, "que nem" aqui. E as fábricas foram fechadas, ruas e cidades estão abandonadas, tem desempregados e "homeless" vagando pelas ruas ou alojados em abrigos. A produção das fábricas americanas faz anos que mudou para a China, o México, Filipinas, Honduras, até Vietnã. Não existe uma camiseta que você compre em uma loja lá que seja "made in USA". 

Existem relatos que mesmo empregados do Wall Mart ou McDonald's, em Nova York, ao final do dia de trabalho, vão para abrigos (pagos) porque o que ganham é insuficiente para o aluguel de uma casa ou apartamento. Essa gente prestou muita atenção no que tanto Trump quanto Sanders falaram, cada um a seu modo, contra a globalização, contra a desindustrialização americana. A mesma música que tocou no Reino Unido para os britânicos votarem no plebiscito pela saída da União Européia. 

COM DILMA. Ciro diz que é candidato à Presidência da República nas eleições de 2018, e até tem minha simpatia, mas vai ter? Parece uma ilusão. Enganação. No golpe de 1964, Castello Branco disse que iria colocar só a cabecinha e devolver. Juscelino Kubitschek seria candidato numas tais eleições de 1965. Não só ele teve seus direitos políticos cassados, para não ter chance de ser eleito, como foi morto em 1976. O presidente deposto no golpe, João Goulart, também foi morto em 1976 pela Operação Condor. Eleições diretas só voltaram a acontecer em 1989 e manipuladas pela Globo. Hoje, outro golpe foi dado e a instabilidade é total.


COM AÉCIO. Não faz sentido a Constituição ter sido rasgada e jogada no lixo e alguém sonhar com eleições de novo. Pra quê? Os donos do campo, quando não gostam do resultado do jogo, dão um pé na bunda do eleito e levam a bola embora! Se a democracia não for restaurada com a saída dessa gangue que tomou o poder e este devolvido a quem tem legitimidade, outras eleições não passam de ficção. Acho mais fácil acreditar em Alienígenas do Passado.

O que pode servir de consolo é que, conforme o ex-presidente Bill Clinton afirmou "em off" a uma jornalista na Casa Branca durante seu mandato, "dentro do governo existe um outro governo que presidente nenhum tem controle". 

Isto é, Trump pode ter falado do muro contra o México e metido o dedo no olho dos muçulmanos e chineses durante a campanha pra levantar a galera, mas quando vira presidente, toca pianinho. Obama também falou um monte, falou que iria fechar Guantanamo, que iria reatar com Cuba e blablabla. Mas, no poder, fez muito menos. E ainda ganhou um prêmio Nobel por isso.

O presidente Trump pode ser diferentão, fazer umas piruetas novas para o povão, mas as corporações, o sistema financeiro, os fabricantes de armas, as companhias petrolíferas, a CIA, a NSA, vão continuar a engrenagem. Apesar que, diferente do coitado do Obama, Trump vai ter mais tranquilidade: tem maioria de Republicanos tanto na Câmara dos Representantes, quanto no Senado, quanto entre os juízes da Suprema Corte. Mas ele peitou toda essa gente para sair candidato de si mesmo. 

E se auto financiou: a fortuna dele (dono de hotéis, cassinos, edifícios comerciais e residenciais) é estimada entre 4 e 9 bilhões de dólares (dependendo do ponto de vista, do cálculo e da valorização dos imóveis). Ele podia estar na sombra e resolveu esquentar o topete, por puro ego.


CALOR HUMANO. Ciro (59) é recém-pai de Gael, nascido em 2015, com sua companheira, desde 2013, Zara Castro (32 anos de diferença), que já era mãe de Theodoro (5). Ciro tem outros três filhos, Lívia, Ciro e Yuri, do seu primeiro casamento, de 1983 a 1999, com a ex-senadora do Ceará Patrícia Saboya. Entre 1999 e 2011, ele foi casado com a atriz Patrícia Pillar.


Uma coisa é praticamente certa: se um dia um rinoceronte chamado Cacareco for eleito presidente dos Estados Unidos, ele tomará posse e governará como todos os outros. Como disse o Sinistro Zé Erra, lá eles respeitam o voto do povo e o presidente cumpre todo o mandato. A não ser que o matem.

Desde 1776, oito presidentes americanos morreram durante o mandato: quatro por morte natural e quatro foram assassinados (entre eles, Lincoln e Kennedy). Em todos os casos, o vice assumiu. O mesmo aconteceu quando Nixon renunciou e o Ford (que era o vice que substituiu o vice Agnew que havia renunciado antes - isso é uma outra longa história) assumiu e era ele o presidente quando eu morei na Califórnia, em 1976, quando comemoraram o Bicentenário da Independência.

ACONCHEGANTE? Donald John Trump (o sobrenome significa "trunfo", como em alguns jogos de baralho), sua terceira esposa Melania (naturalizada cidadã americana em 2006) e seu quinto filho, Barron, residem na cobertura do seu próprio edifício de 58 andares, a "Trump Tower", no centro da cidade de Nova York. Parece cenário de um personagem da Marvel. O prédio também é a sede da "Trump Organization" e teve um estúdio completo de TV onde era gravado o programa "The Apprentice" que ele apresentava para a rede NBC. Aos 70 anos de idade, será o mais velho presidente dos Estados Unidos. Ele tem outros três filhos (Junior, Ivanka e Eric) com a primeira esposa, a tcheca Ivana (naturalizada americana em 1988), entre 1977 e 1992, e uma filha (Tiffany) com a segunda esposa (1993 - 1999), a atriz Marla Maples.

Bernie Sanders, 75, poderia ter sido o primeiro presidente judeu (descende de imigrantes da Polônia e Rússia) e socialista. Continua como senador do estado de Vermont.




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