O que eu estou mesmo longe de conseguir é vencer um certo preconceito, digamos, automobilístico, nas ruas da cidade de São Paulo. E bota longe nisso, pois, a cada dia que passa, só aumenta. Meus alunos na faculdade já decoraram a música que eu chego cantarolando todo dia, "Owner of a Lonely Heart", do YES, especialmente o verso "move yourself!", que é como eu escoo a minha irritação com os carros que atrapalham meu caminho no trânsito, é minha trilha sonora, meu mantra.
No início, faz alguns anos, eu só comentei com minha esposa: curiosamente são sempre os mesmos modelos de carros que empacam na frente da gente, parecem perdidos, não sabem para que lado viram, se primeiro dão seta e depois fazem besteira ou fazem besteira e nem avisam. O sinal fica verde e eles não saem do lugar, e, se saem, parecem se arrastar pela rua, atrapalhando e embaçando.
Com o tempo, ela foi comprovando minha teoria e passou a concordar comigo, dando muita risada cada vez que acontecia. Outro dia, ela mesma tomou a iniciativa, chamando a atenção para um desses carros que ia na nossa frente em Higienópolis e acendia a luz traseira do freio em todos os cruzamentos cujos sinais estavam todos verdes! O jeito foi rir.
Por alguma razão que eu ainda não decifrei, apenas suspeito, quase a totalidade desses carros tranca-rua, segundo minha observação e experiência, são sedãs. Uns são discretas lanchas do asfalto, outros são barcas sem noção e alguns são transatlânticos mastodônticos com dificuldade imensa para estacionar ou executar qualquer manobra que não seja a posição "parado". O campeão é o Corolla, que é hoje o que o Monza foi no começo dos anos 90, e antes dele, o Opala, e antes dele, o Galaxy, e antes dele, o AeroWillys. É uma pena que não esteja disponível na cor vinho ou bordô. Os aposentados devem sentir falta.
É evidente que o problema não é dos veículos, todos eles lotados de tecnologia literalmente embarcada de última geração, apesar do formato demode. O enguiço é da pecinha sentada atrás do volante, perdido, distraído, sossegado, com a vida mansa, com tempo ocioso sobrando, falando ao celular ou, se for um motorista levando o patrão ou a madame no banco de trás, pisando leve para evitar solavancos nos piso irregular das ruas de São Paulo que pudessem derramar os cherry brandys e martinis.
Mais recentemente, devido à grande parcela do meu tempo que contemplo a traseira desses modelos de carros, passei a brincar com os nomes ali estampados enquanto espero a desobstrução da via pública, displicentemente, e ampliei consideravelmente a minha tese: foi então que me dei conta que os nomes procedem!
Os nomes escolhidos pela montadoras para esses modelos, provavelmente, funcionam, psicologicamente, como um chamariz a mais, irresistível, para as pecinhas que os adotam. A explicação estava o tempo todo diante do meu nariz e só caiu a minha ficha agora.
Veja:
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Por que tu PALLAS na minha frente e não anda? |
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Ai, que sono, lerdeza! |
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InJETTA, bebe com água, toma como quiser, mas saia da minha frente! |
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Por mais que eu reze para que você não CRUZE o meu caminho, lá vai o tranca! |
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Você é lento, eu sei, mas faz um esforço, vai! |
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Anda LOGo! Desembaça! |
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Vai demorar muito pra você decidir pra que lado vira, se pára ou se anda? Não MEnGANE! |
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Vai, moleza! Tá dormindo? Accordeee! |
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Mais um campeão de lerdeza na minha frente. Corolla quer dizer "coroa". Certíssimo: só tem coroa no volante! E, muitas vezes, carola também. |
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Você espera porque tem tempo sobrando, mas eu ESPERO que você libere minha passagem rápido! |
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Vai estacionar? Vai ficar parado no meio da rua? Vai virar à esquerda ou à direita? Quando tempo vai levar essa conFUSION? |
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Quem será EL ANTA que está no volante desse empata a vida? |
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Lá vai o tiozão! Muita calma nessa hora, SENTrA e espera ele tomar um rumo. |
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BORA, cara, se mexe, sai da frente! |
Outro fator agravante é se o motorista for japonês, com aquela tranquilidade toda. Se for japonesa, piorou. Se usar chapéu ao volante, cuidado, barbeiragem à vista. Se na minha frente tiver um Corolla com placa de Curitiba guiado por uma japonesa de chapéu, eu... dou meia-volta e vou pra casa. É sinal de mau agouro. O dia não vai ser bom. Não há calmante que dê jeito. Hoje não dá.
Oi Ralfo
ResponderExcluirSei lá, estes não me incomodam tanto o quanto os motoristas "profissionais" que fazem as maiories barbaridades. Admito que passar o dia todo no volante não é bolinho, mas ainda assim....
A respeito de placas de Curitiba, não sei se ainda é assim, mas os carros de aluguel eram licenciados em Curitiba para não serem sujeitos ao rodízio. Então, é bem provável que os carros com placas de Curitiba que vc está vendo sejam pessoas de outra cidade mesmo, usando carros alugados, e perdidos mesmo porque o transito de São Paulo não é para fracos! Eu lembro de quando cheguei em São Paulo alguém me instruiu para ir para o Zoológico era só pegar a Vergueiro e seguir até o final.... Eu estava alegremente seguindo a Vergueiro, quando olhei para o lado, e a placa dizia Avenida Jabaquara! Entrei em panico, procurei um retorno, achei a Vergueiro que deixava de ser avenida e virava uma ruazinha, segui até o final... e obviamente não cheguei no Zoologico! Porque de onde eu vim, avenidas tem o mesmo nome do começo ao fim, não mudam de nome quatro vezes e não viram ruazinhas que descem e terminam em lugar nenhum (na época o conjunto Klabin era um loteamento vazio....)
Dê uma brecha aos perdidos!