Um belo dia de 2012, recebi um telefonema do Chico Amaro que me deixou emocionado. O Joaquim Francisco Amaro, meu ex-professor, consta no meu currículo como tendo sido meu orientador da graduação em Jornalismo lá na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Pois eis que agora ele me liga para solicitar que o que eu fiz seja objeto de estudo da dissertação de mestrado dele! Fiquei pasmo! Agora, estou à espera dele aqui em São Paulo qualquer dia desses para remexer nas minhas caixas cheias de papéis velhos.
Para adiantar o serviço, coloquei em linhas retas minha vida torta. Levei algum tempo para espanar o pó da memória e fuçar nas caixas, pois algumas das informações que estão aqui eu ando omitindo do meu currículo há tanto tempo que não tinha mais certeza das datas ou se realmente aconteceram comigo.
Para adiantar o serviço, coloquei em linhas retas minha vida torta. Levei algum tempo para espanar o pó da memória e fuçar nas caixas, pois algumas das informações que estão aqui eu ando omitindo do meu currículo há tanto tempo que não tinha mais certeza das datas ou se realmente aconteceram comigo.
Tudo
começou quando nasci, em 1959.
Quase
que não. Minha mãe passou um dia inteiro tentando. Cesariana era
uma invenção muito recente. Só quando meu pai já estava pensando
que tinha perdido família é que apelaram. O episódio traumático
causou a minha filiação única. A Maternidade Nossa Senhora das
Graças, de São José do Rio Preto, não é mais a mesma: fechou. Da
minha parte, comecei fazendo graça com os tocos de lápis de cor da
minha tia caçula, em Ribeirão Preto, quando passava as férias na
casa da minha avó materna.
Minha
mãe havia passado em um concurso público para ser professora do
Estado de São Paulo e podia escolher entre as duas cidades de todo o
Estado que tinha vaga para professora de Português e Inglês:
Xavantes ou Nova Granada. Escolheu a mais próxima da casa dos pais.
Da mesma forma, entre Nova Granada e Americana, meu pai escolheu a
mais próxima de Uberaba, onde estava sua família, para ser dentista
recém-formado, assumindo um consultório montado de um dentista
“prático” que precisava sumir depois que sua atividade foi
banida do Estado de São Paulo. Eles se conheceram no hotel onde
moravam e se casaram em 1957. O filme do casamento deles foi autoria
do primo dela, Lauro César Muniz, mais tarde autor teatral e de
novelas de TV. Eu nasci 2 anos e dez dias depois, em 18 de julho. Meu aniversário é no mesmo dia do Nelson Mandela e do Vin Diesel.
Entre
as graças que fazia com os tocos de lápis e papéis de embrulho de
padaria, uma que se destacou e motivo de muitos comentários na
família foi a caricatura do meu pai, também Ralfo (não, não sou
júnior nem filho), vestido de Zorro e montado no meu cavalinho de
cabo de vassoura.
Os vendedores de enciclopédias faziam fila no consultório odontológico do meu pai. Ele comprou Barsa, Delta Larrousse, Caldas Aulete, Lello, Conhecer e Trópico. Eu adorava a Trópico, li de cabo a rabo todos os dez volumes. Na contra-capa do décimo, de capa preta, tinha a foto de todos os presidentes da República do Brasil. Ele também me comprou “Eram os Deuses Astronautas”, “Semeadura e Cosmos” e “De Volta Para as Estrelas”, todos livros de Erich von Däniken, e me levou para assistir ao filme “Help”, dos Beatles. Nós assistimos juntos o homem pisar na Lua em julho de 1969, em transmissão pela TV Tupi, em preto e branco. Ele me tomava os nomes das capitais dos países e estados brasileiros e o nome de todos os 50 estados americanos. Ele, hoje com 82, me deu um violão e insistiu para que eu fizesse aula de datilografia. Minha mãe, 81, me ensinou inglês e português.
Os vendedores de enciclopédias faziam fila no consultório odontológico do meu pai. Ele comprou Barsa, Delta Larrousse, Caldas Aulete, Lello, Conhecer e Trópico. Eu adorava a Trópico, li de cabo a rabo todos os dez volumes. Na contra-capa do décimo, de capa preta, tinha a foto de todos os presidentes da República do Brasil. Ele também me comprou “Eram os Deuses Astronautas”, “Semeadura e Cosmos” e “De Volta Para as Estrelas”, todos livros de Erich von Däniken, e me levou para assistir ao filme “Help”, dos Beatles. Nós assistimos juntos o homem pisar na Lua em julho de 1969, em transmissão pela TV Tupi, em preto e branco. Ele me tomava os nomes das capitais dos países e estados brasileiros e o nome de todos os 50 estados americanos. Ele, hoje com 82, me deu um violão e insistiu para que eu fizesse aula de datilografia. Minha mãe, 81, me ensinou inglês e português.
Entre
1972 e 1975 eu gastei minha mesada em cartolina, cadernos de desenho
e as avançadíssimas canetas hidrocor. Fazia revistas de histórias
em quadrinhos, desde a capa até tudo, desenhando cada página,
gêneros que variavam entre humor, super-heróis e ficção científica. Cada edição, com a tiragem de um, passava de mão em mão entre
colegas e professores. A periodicidade era variadíssima, mas tenho
uma caixinha com quase 40, além de um livro de “romance de
espionagem, meio sátira de 007”.
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Por volta dos 12, 13 anos de idade, eu fazia revistinhas de quadrinhos de vários temas: humor, super-herois, ficção científica. Consumia minha mesada em papel, cartolina e canetas hidrocor, nas lojas da Daura e da dona Ninha, em Nova Granada. Cada revista tinha a tiragem de um exemplar, que era emprestada de mão em mão. |
Uma
outra destinação para a cartolina e as canetas hidrocor, além das
capas dos gibis, eram os carrinhos da escuderia Bubu, com os quais o
meu pai particularmente se entusiasmava mais: eu fazia miniaturas de
carros, alguns réplicas de carros existentes, inclusive os da
Fórmula 1, dos irmãos Fittipaldi e do José Carlos Pacce, e outros,
eu inventava. Meu pai achava que eu teria futuro nisso, muito mais
promissor do que como cartunista.
Também
em 1975, eu colaborava com uma crônica por semana para o jornal A
Tribuna, de Nova Granada, editava (com o colega Adel Charaf
Eddine) o jornal mimeografado BIF (Boletim Informativo de Fofocas)
distribuído no colégio (fomos chamados para falar com a diretora
algumas vezes por causa do conteúdo dele) e cantava em bailes,
quermesses e serenatas, às vezes composições próprias.
No
ano seguinte, minha vida mudou radicalmente. Meu pai me mandou para
os Estados Unidos, seguindo os conselhos de uma tia que tinha feito o mesmo com um primo no ano anterior. Eu ainda não sabia onde que eu iria
cair para aproveitar meu intercâmbio cultural de seis meses. Um dos
meus sonhos, além de imaginar se um dia seria possível eu ir à Lua
tal qual eu vi na TV, era quem sabe poder ir uma vez na vida à
Disneylândia, que foi inaugurada no mesmo dia em que eu nasci, só
que 9 anos antes, em 18 de julho de 1950.
Pois saí de Nova Granada para a região metropolitana de Los Angeles, em Downey, virei vizinho da Disneylândia (a original, não o Walt Disney World da Flórida) e estive lá quatro vezes só naquele ano, a última, no dia 4 de julho de 1976, o dia em que se comemorava 200 anos da Independência Americana, com direito a fogos de artifício, desfile de carros alegóricos com temas patrióticos dentro da Disneylândia e hino nacional tocado no sistema de som do parque.
Pois saí de Nova Granada para a região metropolitana de Los Angeles, em Downey, virei vizinho da Disneylândia (a original, não o Walt Disney World da Flórida) e estive lá quatro vezes só naquele ano, a última, no dia 4 de julho de 1976, o dia em que se comemorava 200 anos da Independência Americana, com direito a fogos de artifício, desfile de carros alegóricos com temas patrióticos dentro da Disneylândia e hino nacional tocado no sistema de som do parque.
Naqueles seis meses de 1976, publiquei tirinhas de
histórias em quadrinhos nos jornais de duas escolas (The Loyalist,
de Loyola High School, e The Norseman, de Downey High School), fiz a
disciplina de “desenho a mão livre” (freehand drawing) em ambas
as escolas e também um curso livre de animação com massinhas.
Enquanto isso, minha atual esposa estava nascendo em Fortaleza, Ceará.
Voltando
a Nova Granada, virei motivo de reportagem do novo jornal Dia e Noite, de São
José do Rio Preto, que inaugurava a nova tecnologia offset na
região e passei a colaborar com ele, com cartuns e tirinhas de HQ a
partir de dezembro de 1976. O Adel escreveu alguns textos para o Dia
e Noite em parceria com ilustrações minhas. No ano seguinte, 1977,
lançamos o tablóide Estopim em Nova Granada, tendo como
“jornalistas responsáveis” dois colegas do Dia e Noite, Nelson
Homem de Mello e Clóvis Ferreira Lima. Nós simplesmente gritamos na
redação do Dia e Noite “estamos lançando um jornalzinho em Nova
Granada e precisamos de alguém que assine” e os dois levantaram a
mão.
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Estopim, fase de Nova Granada. Em plena época da ditadura militar, não tardou para sermos intimidados em dar esclarecimentos sobre algum comentário irônico ao comandante da Polícia Militar local. |
Eu
fazia Faculdade de Direito, em São José do Rio Preto, à noite. Meu
pai havia me perguntado, no final de 1976, “e agora, o que você
quer fazer?” E eu havia respondido que não tinha muita certeza do
que queria fazer, mas tinha certeza do que eu não queria fazer. Eu
era péssimo com números e passava mal ao ver sangue. Eu me saía
melhor falando com pessoas e escrevendo, talvez Jornalismo,
Psicologia ou Direito, sei lá. “Ótimo, o vestibular para Direito está
aberto”, ele disse. Eu prestei e entrei.
O
José Hamilton Ribeiro (yes, da revista Realidade e do Globo Rural),
diretor-responsável do Dia e Noite, vaticinou: “o Estopim não
passa da quarta edição”. Então, nossa meta estava traçada:
doesse o que fosse, tínhamos que provar que ele estava errado. Foram
11, mais ou menos mensal. Um dos diretores do Dia e Noite, o Amaury
Júnior (yes, o Flash), publicou em sua coluna social
ou em outras seções do jornal, várias notas sobre o Estopim. Por exemplo, em 23
de novembro de 1977, “Jornalzinho de Granada diz que a poligamia
tende a aumentar” ou, em 4 de março de 1978, “Jornal de Granada
está chamando o prefeito de palhaço” (era a fantasia dele no
carnaval, ué). Tenho livros encadernados com recortes dos jornais. A tiragem do Estopim era de uns 300 exemplares e
tinha uma receita mista de assinantes, venda direta nas ruas e
anunciantes.
O
pai do Adel me chamou para uma conversa e me pediu para convencê-lo
a largar essa bobagem de jornal e ir estudar medicina. Eu consegui.
Aí o Estopim parou. O Adel foi estudar medicina em Valença, RJ. Hoje o Adel é pediatra e vice-prefeito (reeleito) de Jacareí, SP. Além de nós dois, o
Estopim tinha um exército de colaboradores. Quase todos seguiram suas
vidas em profissões distantes do jornalismo, como o nosso repórter
esportivo, o Lilica, que entrevistava jogadores e treinadores em
campo, que virou gerente da agência do Banco do Brasil em Nova Granada. A
única exceção foi o Ricardo Gandour, filho do dono da Tribuna e do cinema onde passei uma parte da minha vida (assistindo
filmes a semana inteira ou brincando no salão vazio com o filho do
dono e outros meninos), que era o nosso “foca colaborador”
(conforme expediente), que hoje é membro do conselho
editorial do jornal O Estado de S. Paulo, depois de estudar engenharia na Universidade Federal de São Carlos e especialização na Cásper Líbero.
A
partir de dezembro de 1978, voltei a escrever crônicas semanais para
A Tribuna, de Nova Granada, fazia cartuns para uma revista de São
José do Rio Preto, a Primeira Edição (do Nelson e do Clóvis, que
foram “responsáveis” pelo Estopim) e era assessor de imprensa do meu parente, prefeito de Nova Granada (aquele palhaço), fazendo um jornalzinho
para divulgar as atividades dele, o Jornal do Barbudinho.
A
partir de novembro de 1979, virei chargista diário do Dia e Noite e
continuei colaborando com as crônicas para o jornal de Nova Granada,
a Tribuna, que era tipografado.
O
jornal Dia a Noite fazia oposição ao prefeito de São José do Rio
Preto, Adail Vetorazzo, um sujeito esguio, magro, alto, com um
bigodinho e um andar elegante. Me lembrava a Pantera Cor-de-rosa. Nas
minhas charges diárias na página do editorial do jornal eu
criticava o prefeito sem desenhar o Adail, desenhava a Pantera. Um
dia, recebi, na redação, um telefonema de um assessor da prefeitura
me perguntando se eu aceitaria um convite para ir falar com o
prefeito.
Veio
um carro oficial com motorista me buscar, entrei na prefeitura pelos
fundos, por um elevador privativo, direto no gabinete do prefeito. Ao
me ver, o Adail reclamou: “você está acabando comigo!” E
eu justifiquei que seguia a política editorial do jornal. Então ele
disse que estava mesmo era adorando, por onde ele passava, fosse no
centro ou na periferia, as pessoas e mesmo as crianças gritavam
“olha, o pantera!”. E todos queriam abraçar o pantera, tirar
foto com o pantera. Ele me fez uma proposta:
queria me contratar para fazer “panteras” para ele. E eu poderia
continuar no jornal malhando o pantera lá. Então eu contei sobre a
experiência como assessor de imprensa do prefeito de Nova Granada,
para quem tinha feito o Jornal do Barbudinho, um panfleto que era
entregue nas casas junto com a conta da água.
Assim
nasceu o Jornal do Pantera, nos mesmos moldes, só que eu não fazia
inteiro, como o do Barbudinho, havia uma equipe de redação, eu só
ilustrava. Um dia o dono do Dia e
Noite, o Adib Muanis, me chamou na sala dele: “é verdade que você
está trabalhando para o prefeito?”. Eu confirmei e contei tudo
como tinha acontecido. Não houve problema, afinal, ele já tinha outros com que se preocupar. O jornal faliu em agosto de 1980, depois de 4 anos de
existência. Foi uma baita experiência no jornalismo de São José
do Rio Preto. Anos depois de fechado ainda tinha gente procurando por
ele nas bancas, eu testemunhei.
Eu
não me somei à fila de empregados para receber alguma coisa da
massa falida, com a venda das máquinas e equipamentos. Larguei para
lá. Me lembro de, muito tempo depois (talvez eu já fosse advogado
recém-formado, com escritório em sociedade no centro de São José
do Rio Preto), eu dirigia meu Ford Corcel pelas ruas quando reconheci
um japonês todo sujo, as roupas encardidas, num ponto de ônibus. Eu
parei e lhe ofereci uma carona até na casa dele. Ele havia sido um
dos melhores fotógrafos do Dia e Noite e, na falta de outro emprego
melhor, sem receber os salários atrasados, estava trabalhando como
borracheiro.
O
Adail Vetorazzo foi reeleito prefeito, foi eleito deputado estadual e
deputado federal. Eu fiz desenhos da Pantera para tudo, até camisetas para a tradicional missa dos motoqueiros (até os padres
eram motoqueiros, uma missa campal, lotada de motos, muitos com a
camiseta da Pantera numa moto). Os carros de som, durante as
campanhas para as eleições, tocavam a música da Pantera
Cor-de-rosa. Depois, foi secretário do Bem Estar Social da
administração de Paulo Maluf na prefeitura de São Paulo.
![]() |
Capa e detalhe da última página. |
Recentemente,
um livro foi escrito com a biografia do Adail. Eu e “minha Pantera”
somos citados em várias páginas, inclusive na ilustração que
encerra o livro. O autor do livro é o José Eduardo Furlanetto, meu
colega de faculdade de Direito, que era jornalista da Folha de Rio
Preto, para onde eu fui, como chargista, por indicação dele, depois
que o Dia e Noite fechou.
Na
verdade, antes de virar chargista da Folha de Rio Preto, voltei a
escrever crônicas semanais para A Tribuna, de Nova Granada, e passei
pela “A Notícia”, de São José do Rio Preto, que havia
arrematado em leilão o maquinário do Dia e Noite e eu junto, levado
pelo colunista social Cesar Muanis (irmão do dono do Dia e Noite,
Adib Muanis), entre junho e dezembro de 1981.
Em
1982, um colega professor de inglês (eu tinha escritório de
advocacia de dia, dava aulas em escola de inglês à noite e aos
sábados), o Camilo Roberto, me convenceu a ressuscitar com ele o
Estopim. Foram mais umas 12 edições (não tenho certeza), com o
subtítulo “uma publicação da Grande Nova Granada e Região,
órgão oficial de toaletes e lavatórios”. O Estopim, nessa fase,
vivia de publicidade e era distribuído gratuitamente em postos de
gasolina, com um espaço no cabeçalho para cada posto bater seu
carimbo de “cortesia aos clientes”. Tiragem de mil exemplares.
![]() |
Estopim fase de São José do Rio Preto, com o Camilo Roberto. |
Cada
edição era citada em colunas de outros jornais: A Notícia, Folha
de Rio Preto, Diário da Região (com quem tinha começado a flertar,
escrevendo cartas como um leitor comum, para o jornalista Mário
Soler, que tinha sido colega de redação no Dia e Noite) e até pela
Folha de S. Paulo, na coluna Panorama, da Terezinha Monteiro. “Veja
que interessante concorrência pública foi divulgada pelo
jornalzinho Estopim, de Nova Granada e que circula também nos
subúrbios (como Rio Preto): acha-se na Secretaria da Câmara
Municipal de Parafuseta, concorrência para a construção de um rio
poluído sob uma ponte construída pela Prefeitura. O objetivo é
retificar erro de cálculo e localização e possibilitar o emprego
de modernas técnicas despoluidoras. A seção citada fornecerá
todos os esclarecimentos quanto ao volume de água, vazão,
ondulação, permeio, contaminação mínima para combate
antipolucional, sabor, coloração etc”.
Em
novembro de 1982 virei chargista diário da Folha de Rio Preto (levado pelo colega advogado José Eduardo Furlanetto) ao mesmo
tempo em que fazia o Estopim e as outras atividades. Em 1983, o
namoro com o Diário da Região rendeu: na edição do dia 13 de
março, o Diário colocou nota no alto de sua primeira página, no
canto superior esquerdo, logo abaixo do cabeçalho, entitulado “O
Estopim no Diário (ou o Diário no Estopim ?)”, explicando que, a
partir daquela edição, todo domingo, o Estopim seria uma página de
humor encartada no Diário. Eu levei meus anunciantes para lá,
inclusive a agência de turismo Rodojet, cujas peças publicitárias
eram um cartum meu.
Além
da última página do primeiro caderno da edição de domingo do
Diário da Região, chamada Estopim, passei a ser requisitado para
fazer ilustrações aleatória de matérias diversas, até que... em
outubro virei chargista diário, na página do editorial, cumulando
com o Estopim e ilustrações avulsas. Ainda escrevia três colunas
durante a semana, com patrocinadores: “Autos & Motores”,
¨Tendências & Negócios” e “Notícias Rurais”.
Paralelamente,
classifiquei minha música “Observador” no III Festival de Música
Popular Brasileira com uma bandinha improvisada: um colega advogado
no outro violão, Ivan (que parece que virou delegado no Mato Grosso do Sul), a filha do senhorio (o dono do imóvel para quem eu
pagava aluguel do meu escritório de... aham... advocacia ou sei lá)
como cantora, a Angélica (parece que foi morar em Israel) e duas outras pessoas que meu colega conhecia na igreja
evangélica dele, um flautista e professor de cursinho e um garoto
tocador de bongô. Nos apresentamos no palco do Teatro Municipal de
Rio Preto vestindo pijamas e fomos novamente classificados para outro
dia, para a final. Havíamos distribuído panfletos com a letra da
música, cuja impressão foi patrocinada por uma editora, para a
platéia cantar junto. Os jornais publicaram fotos e comentários
sobre nós.
No
outro dia, subimos ao palco fantasiados de prisioneiros (uma fantasia
emprestada de um bloco de carnaval de Nova Granada, listrada de
branco e preto na horizontal, com números no peito) e eu arrastava
um planeta Terra preso na perna (uma bola inflável que peguei
emprestada da vitrine da agência de turismo Rodojet). Ganhamos em
segundo lugar. Nos deram um trofeuzinho (que não sei onde anda),
saímos de novo nos jornais e recebemos uma graninha (não lembro
quanto, talvez uns R$ 500 de hoje) que eu dividi com todos os
integrantes.
Eu
era convidado para dar palestras em faculdades, me chamaram para
representar Rio Preto contra Limeira no Programa Sílvio Santos, em
São Paulo, no quadro Cidade Contra Cidade, para responder perguntas
de cultura geral (putz, caiu Noel Rosa, não fui tão bem, mas Rio
Preto ganhou e seguiu no programa para uma próxima edição) e virei
até jurado de gincana em colégio. A seção de cartas do Diário da
Região frequentemente tinha alguma comentando uma charge minha. Lá
em Nova Granada eu era o Ralfinho, o filho do dr. Ralfo, dentista. Em
Rio Preto, quando meu pai dava um cheque em algum lugar, como um
posto de gasolina, algumas vezes as pessoas olhavam o nome dele no
cheque e perguntavam: “Ralfo? O que o senhor é do Ralfo?”.
O
sistema do Diário era semi-offset. Eles economizavam com fotolito da
página inteira. Os textos eram compostos pelas linotipadoras a
chumbo em tiras de acetato transparente. As minhas ilustrações
(tanto as charges, quanto as do Estopim ou as solicitadas por outras
editorias) eram desenhadas direto com nanquim em cima de acetato
transparente. Era feito fotolito só das fotos e algumas ilustrações
reticuladas. Mesmo assim, eu cortava com estilete pedaços de
retícula transparente e grudava com durex em áreas das minhas
charges, para fazer algumas sombras e volumes. Então, toda página
em acetato transparente recebia as ilustrações, textos e fotos e
seguia para sensibilizar a chapa metálica que imprimiria na
rotativa.
Um
sábado, eu fiquei até muito mais tarde no prédio do Diário, quase
meia-noite, só para garantir que uma molecagem seria bem feita.
Fiquei na oficina acompanhando até a hora em que a “rama” do
Estopim seria montada como eu queria: de cabeça para baixo. Os
montadores me questionaram “mas, de cabeça para baixo?”,
confirmei e fiquei até o último minuto para ver a edição de
domingo ser impressa e não ter como ninguém “corrigir” o
problema. No dia seguinte, quem comprasse o Diário nas bancas de
todas as cidades da Região, ou fossem assinantes, e chegassem à
última página do primeiro caderno, a “contracapa” do jornal,
perceberia o Estopim invertido. Ao virar o jornal, leria a manchete
logo abaixo do cabeçalho do Estopim “Extra! Inédito! Nesta
edição, o Diário da Região de ponta cabeça!” Foi o assunto do
dia, a seção de cartas “bombou” (em termos de hoje) nas edições
seguintes, mas, na segunda-feira, o dono do jornal, Norberto Buzzini,
meio rindo, meio sério, disse: “se você fizer uma coisa assim de
novo, eu viro a sua cabeça”. Os diretores de redação (Mário Luís) e
comercial (Mazinho e Marinho), presentes, gargalhavam.
Em
1984, resolvi fechar o escritório (a escrivaninha e os livros estão
lá em Nova Granada, ainda com processos nas gavetas) e ir estudar
jornalismo. Não havia faculdade disso em Rio Preto. A mais próxima
era em Ribeirão Preto, a quase 200km, terra dos parentes da minha
mãe. Fui para lá, morar numa república de estudantes, dava aulas
de inglês numa escola da mesma rede da que eu dei aulas em Rio Preto
anteriormente, fazia o Estopim semanal e as charges diárias para o
Diário da Região em “pacotes para a semana toda” enviadas pelo
malote (gentileza) das Lojas Mahfuz (de móveis e eletrodomésticos,
um dos patrocinadores do Diário, cuja sede era em Rio Preto e tinha
filial em Ribeirão). Não tinham inventado e-mail ainda, fax quem
tinha era só o correio, os jornais tinham telex, e a Mahfuz tinha
carros semanalmente levando e trazendo documentos entre as duas
cidades. Fui eu que bolei isso.
Os
jornais de Ribeirão Preto eram todos (uns três diários)
linotipados ainda, com a rama toda de metal, prensa plana, estavam
atrasados em relação ao Diário da Região. Mesmo assim, além de
tudo que fazia, também descolei uma coluna semanal em um jornal de
Ribeirão, a Folha de Domingo. A coluna, de um quarto de página
formato standard, chamava-se “Garapa” (Ribeirão é a terra da
cana, né?) e era, basicamente, um requentado do Estopim com
adaptações locais. Era tudo texto, com uma única charge, pois era
preciso fazer clichê.
Enquanto
isso, lá em Rio Preto, aquela editora, a Verbo, que patrocinou os
folhetos do “Observador” preparava meu livro que seria impresso
nas oficinas do Diário da Região. O Diário praticamente me deu isso, 2
mil exemplares. 700 foram vendidos entre a noite de autógrafos no
Chicken-In (uma restaurante especializado em frangos)
em Rio Preto e uma livraria da cidade. Depois fiz nova sessão de
autógrafos em Ribeirão Preto, na biblioteca da Unaerp, com
patrocínio da Coca-Cola local, dos biscoitos Mabel (que forneceram
uns salgadinhos), do cursinho COC (Oswaldo Cruz), que imprimiu uns
convites para expedir para a imprensa da cidade e da rede de
livrarias (umas 6) Para-Ler, que colocou os convites no correio, além disso, organizou outra
sessão de autógrafos em sua livraria do shopping numa sábado à
tarde. Com tudo isso, foram vendidos menos de 200, acho.
Depois
disso, “viajei” com o livro “Ralfo – 8 Anos de Humor”,
montando banca do Salão de Humor de Piracicaba, em Londrina e em Curitiba. Ah, sim, também fiz uma sessão de autógrafos e
venda na padaria Nova União, em Nova Granada. Tem uns pacotes de encalhe lá
na casa dos meus pais, perto da escrivaninha de advogado.
Toda
aquela minha trajetória por Ribeirão Preto se resumiu a agitados 6
primeiros meses de 1984. Enquanto isso, minha namorada (desde 1978, em Nova Granada, quando eu tinha 18 e ela 15), estava em Londrina
desde o início do ano, havia passado no
vestibular da UEL. Para o segundo semestre de
1984, eu resolvi ir atrás dela. Havia duas vagas oferecidas para
transferências no curso de Jornalismo da UEL. Eu me candidatei.
Minha namorada disse: “ih, é muito difícil”. Consegui uma.
Comprei passagem de ônibus em julho para ir a Londrina efetivar a
transferência e também procurar onde morar a partir de agosto.
Perguntei para a minha namorada como era o nome daquela escola
de inglês onde ela estudava, para eu tentar dar aula lá. Ela
respondeu que era “Cambridge, a escola mais conceituada da cidade,
seria dificílimo eu entrar lá”.
Cheguei
em Londrina, comprei a Folha de Londrina,
procurei anúncios de pensões, circulei algumas. Na primeira que
visitei já fechei negócio, compartilharia um quarto com banheiro a
partir de agosto com um japonês gordo, careca (calouro de alguma
coisa, agronomia, acho) de São Paulo, que logo ganharia de mim o
apelido de Buda, adotado por todo mundo. Só ao sair da pensão é
que vi a escola Cambridge do outro lado da rua. Fui até lá e me
apresentei a uma moça atrás de um balcão. Ela me deu uma “ficha”
para preencher com meus dados e minha experiência prévia na língua
inglesa. Preenchi ali no balcão mesmo, de pé, e devolvi para ela,
mas ela ela me disse para eu entregá-la a um homem numa sala atrás
de mim. Enquanto eu estava preenchendo o papel, pelas minhas costas,
um dos donos da escola, Edson Buoro, fez sinal para a moça me mandar
entrar. Ele leu minha ficha, inclusive com a informação de que eu
viria morar do outro lado da rua, e já começou a me atribuir aulas,
o papo todo em português. Não falamos uma única palavra em inglês.
Ouvi tudo calado e só no final perguntei, intrigado: “escute, só
uma curiosidade, você não me testou, não falou nada em inglês
comigo, como é que você sabe que eu sou capaz?”. Resposta dele:
“você não ousaria entrar aqui se não fosse”.
Tive
uma nota publicada na Folha de Londrina em 28 de setembro de 1984:
“Ele vem com tudo. O chargista Ralfo, da cidade paulista de Rio
Preto e que atualmente faz o curso de Comunicação em Londrina, não
deixa por menos e dá sua contribuição à greve da Universidade:
hoje pela manhã ele estará lançando seu livro '8 Anos de Humor',
no campus, e toda a renda será revertida em benefício do movimento.
Beleza. Toda greve precisa de uma boa pitada de humor. Facilita a
caminhada.”
Em
outubro, outra nota no jornal, diz que Eduardo Baccarin lançará seu
livro “Caminhada” de poesias no Bar Academia, na avenida JK, cuja
capa é de autoria do “chargista Ralfo Furtado”. O namoro com a
Folha de Londrina parecia que ia bem, em novembro teve uma matéria
sobre mim de uma página tabloide do suplemento Folha da 6ª, com
chamada na primeira página, com foto minha. Na matéria, caricaturas
minhas do Tancredo Neves e Paulo Maluf, candidatos à presidência,
Silvio Santos e do prefeito de Londrina, Wilson Moreira.
Enquanto
isso, eu participava como cartunista de um fanzine chamado Fritada,
fazia ilustrações para uma revista mensal chamada Cartaz, depois
para outra chamada Roteiro, me inscrevi no concurso da música do
Cinquentenário de Londrina (com minha composição “Londrina
Querida” - interpretada por um grupo de colegas de república –
Pedro, Marcos, Aurélio Albano – só levamos um troféuzinho de
'escolha do público') e convenci os donos da escola Cambridge que
eles precisavam de um jornal interno. Aí nasceu o “The Cambridge
Times”, em inglês, contando as atividades da escola, as festas, e
trazendo textos e cartuns curiosos, sob a palavra final dos donos da
escola na edição e com anúncios de lojas e agências de turismo da
cidade, que pagavam as despesas com impressão e a mim. Depois que eu
saí, eles chamaram o colega Alexandre Horner para dar continuidade ao
jornalzinho.
Um
novo reitor seria escolhido para a UEL. As fotos dos candidatos foram
publicadas no jornal da universidade. Eu fiz uma caricatura de todos
sentados “a la santa ceia” só que, ao invés da mesa, um
pepinão. Entreguei a charge lá na redação do jornal, ao lado da
reitoria. Deu espelho. Saiu publicada no “poster central” do
jornal.
Enquanto
isso, fiz uma visita à Folha de Londrina levando alumas charges e
falei com o Walmor Macarini. Ele me disse para deixá-las lá, que
ele encaminharia para “serem avaliadas” pelo pessoal do
departamento de artes. Uns dias depois, voltei para perguntar o
resultado da “avaliação” e ele me deu a conclusão:
“infelizmente os seus desenhos não têm definição gráfica”.
Passado algum tempo, uma daquela charges que deixei lá para
“avaliação” sai publicada no alto da primeira página da Folha
de Londrina, sem a minha assinatura: era o Sarney pulando cordas com
a inscrição ao alto “presidente em exercício”. Telefonei para
o Macarini para dar parabéns para ele, pois a Folha de Londrina já
tinha atingido “definição gráfica” suficiente para publicar
uma charge minha na primeira página. No começo ele se mostrou
surpreso, nem sabia, depois, provavelmente com o jornal na mão, me
xingou de tudo quanto foi nome e me mandou procurar meus direitos se
eu quisesse. Desculpas nem pensar. Fim da minha relação com a Folha
de Londrina. Não combina comigo esse tipo de gente.
Um
dia, no começo de 1985, eu estava almoçando no Restaurante
Universitário e um sujeito se sentou ao meu lado me perguntando:
“você é o Ralfo?”. Ele tinha visto a caricatura dos candidatos
a reitor no pepino. Era o Mário Benedito, que viria a ser meu
professor de diagramação, me convidando para ir trabalhar no Jornal
do Caminhoneiro (que depois virou revista Carga Pesada) a partir do número
2. Fiz ilustrações para todas as outras publicações da Ampla
Editora (jornal da associação médica, da cooperativa de Rolândia,
da cooperativa agrícola de Cambé, o Jaburnal e sei lá mais o que).
Continuava
a mandar as charges diárias e o Estopim (que foi reduzido à ultima
página de um suplemento tabloide) para o Diário da Região, de Rio
Preto, em um envelope com a produção para a semana, por
Sedex, dava aulas de inglês na Cultura Inglesa, na Littera e fazia
frilas e ilustrações para a revista Roteiro.
Em
1985, o meu pai, que era provedor da Santa Casa de Nova Granada, foi
convidado a fazer uma apresentação sobre o hospital em um congresso
nacional de Santas Casas e me pediu ajuda. Eu fui a Rio Preto e
contratei o fotógrafo Kharfan e o levei a Nova Granada com uma pauta
de slides para ele fazer. Depois contratei o Roberto Toledo, da Rádio
Independência (uma vez eu compus uma marchinha de carnaval para outro radialista da Independência, o Garcia Neto), para gravar um áudio em uma fita cassete a partir de
um texto que eu escrevi. Resultado: passava os slides no carrossel
sincronizado com a fita cassete. Eu mesmo fui o projecionista no dia
da apresentação no congresso, em São Paulo.. Isso me
rendeu um convite de trabalho em São Paulo: o presidente da
Federação das Misericórdias disse que, depois que eu terminasse o
curso na UEL, se eu quisesse ir para São Paulo, o cargo de assessor
de imprensa era meu.
Em
1986 me casei pela primeira vez. O casamento foi em Rio Preto. Já
morávamos em Londrina desde 1984 gastando dois aluguéis e pareceu lógico juntar as coisas. Com o fim do curso
de Jornalismo na UEL, no começo de 1988 nos mudamos para São Paulo
e assumi o emprego na Federação das Misericórdias. Criei o jornal
tabloide mensal “Novo Rumo”, distribuído para todas as Santas
Casas do Brasil, e lancei a candidatura a deputado do médico e
provedor da Santa Casa de Pindamonhangaba Geraldo Alkmin Filho, com
uma entrevista de duas páginas. Eu também ajudava na organização
de eventos, bolava cartazes, panfletos, distribuía releases
para a imprensa, participava das reuniões e das visitas a
autoridades para reportar no jornal.

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Minha ilustraçãp saiu na primeira página do Suplemento de Turismo do Estadão, como chamada da minha matéria sobre Los Angeles, que ocupou 6 páginas. |
Enquanto
isso, mandava as charges diárias e o Estopim para o Diário da
Região, de Rio Preto, agora por fax. Em algum ponto, que agora não
lembro com exatidão, o Estopim deixou de ser Estopim.
Estava em alta o desenho animado do He-Man (que gritava “pelos poderes de
Greyskull!”), então ele foi transformado (a mesma última
página do suplemento tabloide) em Ri, Mãe! - com o subtítulo
“Pelos poderes do bacon!”, e era cheia de porquinhos em todas as
brincadeiras, piadas e passatempos.
Fiz
uma visita à Folha da Tarde (no segundo andar do prédio do Folhão) e, quando mostrei o texto sobre Los Angeles que fiz para o Estadão, o Adilson Laranjeira (que é fanático por cinema)
chamou o Chicão (Chico Lang) e mandou me empregar: “coloca ele pra
falar inglês quando tiver de entrevistar algum gringo”. Virei
repórter da Geral: cobri show da Xuxa, roubo de carros, reportagem
sobre praças pitorescas e condomínios de luxo, colecionadores de
canetas, explosão de depósito clandestino de butijões de gás em
São Bernardo, campeonato de motocross em Campos do Jordão e
traslado de corpo de nadadora brasileira (que morreu ao tentar
atravessar o Canal da Mancha) que chegaria em Santos, pautado por
Laranjeira, Carlos Brickmann e Chico Lang.
Meu
horário na Folha da Tarde era das 13h às “18h” (algum dia eu
fui pra casa às 19h ou 20h, outros às 22h e até 23h),
inclusive domingos. Meu dia de folga era sábado. Todas as manhã, eu
“batia ponto” na Federação das Misericórdias. E fazia as charges para o Diário e as ilustrações para a Carga
Pesada. E ainda virei
correspondente da Carga Pesada também: ia aos bastidores do programa
do Bolinha, na TV Bandeirantes, ou do Perdidos na Noite, do Faustão,
na Record (na verdade, no Teatro Zácaro, no Bexiga) entrevistar os
próprios (o Bolinha dizia que ficou satisfeito com a entrevista que
publicamos dele, que ele sempre se aborrecia com jornalista que
distorciam o que ele falava, mas que eu fui fiel) e seus convidados:
Gretchen, Rita Cadilac, Mara Maravilha, Maguila, Genival Lacerda,
Lilian Ramos, Alice de Carli...
No
final de 1988 meu casamento acabou. Eu fui embora, dormir em um
hotelzinho (Hotel Canadense) em frente à Folha. Um dia, na redação,
vendo minha cara, o Chicão perguntou o que estava acontecendo e eu
contei. “Ah, é isso? Quando você estiver no terceiro casamento,
como eu, você se acostuma. Está precisando de alguma coisa?” Eu
falei: “Estou alugando uma kitchnete, preciso de um fiador”. E
ele: “onde eu assino?”.
Perto
do Natal, o Chicão chegou bem pertinho de mim, na redação e disse
baixinho: “vou te dar um presente. Vou te demitir!”. Eu estranhei
o presente, mas ele explicou: “Eu te demito, você recebe uma
grana, esfria a cabeça, vai se divertir no final do ano, depois você volta e eu te recontrato”. Fui e não voltei. Eu tenho uma regra de não voltar para onde eu
tenha saído.
Em
1992 fui demitido do Diário da Região (uma nova equipe assumiu a
redação e trocaram todo
mundo, trouxeram até um chargista novo). Viajei lá para São José
do Rio Preto para dar “baixa na minha carteira”.
No
final desse ano, eu e minha segunda esposa e sócia, começamos o “Jornal
do Centro” (subtítulo: “O Jornal do Nosso Bairro”) e também distribuímos minhas charges para jornais do interior de SP, PR e MG. Tivemos jornais-clientes em Apucarana,
Itu, Guarulhos, Alumínio, Pereira Barreto e Pará de Minas, que
pagavam um valor mensalmente para receber minhas charges (as mesmas
para todos) por fax.
Nessa
mesma época, o Estopim ressurgiu em Jacareí (onde o Adel é
pediatra e, hoje, vice-prefeito), não me lembro quantas foram as
edições, talvez menos de 10. Eu editava (acrescentando charges
minhas) e imprimia em São Paulo com os patrocínios que o
Adel conseguia lá, por iniciativa e insistência dele. Era
um tabloide de 8 páginas e, talvez, mil exemplares de tiragem.
Sobre
o “Jornal do Centro”, tudo começou quando eu fazia o Novo Rumo,
jornal tabloide mensal que criei para a Federação das Misericórdias
desde 1988 e, na gráfica onde ele era impresso, eu via jornais de
vários bairros de São Paulo que também eram impressos lá. Como eu
sempre morei na região central, o meu “bairro”, o pedaço da
cidade com o qual tenho afinidade, para o qual quero melhorias, quero
saber a história, as atividades, a programação de eventos, é o
centro.
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Furtaram a estátua da Praça da República. Esse era um assunto tipicamente relevante para nossa primeira página, patrocinada, entre outros, pelo Páteo Maria Antonia, da maravilhosa Sandra Papaiz. Antes da primeira edição do Jornal do Centro, apenas com uma folha de papel milimetrado na mão, de rascunho, eu a procurei e expliquei as minhas intenções. Ela me interrompeu e perguntou: "quanto é minha parte?" Durante todos os 4 anos de circulação do jornal, o patrocínio do Pateo esteve acima do cabeçalho, no canto superior direito da primeira página. Uma coluna em inglês, na primeira página em toda as edições, resumia os assuntos relevantes para os estrangeiros que estivessem hospedados no Hilton da Ipiranga ou no Othon da Líbero Badaró. |
O
“Jornal do Centro” tinha formato standard, 8 páginas, 3 mil
exemplares, distribuição gratuita (e assinaturas: apenas o valor do
correio) quinzenal. Fazíamos quase tudo: vender publicidade,
escrever, fotografar, desenhar charges, distribuir, cobrar. O
“quase” é porque tínhamos colaboradores, não remunerados,
gente que gostava de escrever sobre a programação de rádio, de TV,
de cinema, de teatro, horóscopo e mais um monte de assuntos, com
colunas fixas, gente que também morava na região e queria ajudar.
A distribuição era feita em cafés, padarias, restaurantes, hotéis, supermercados patrocinadores e até bancas de revistas (tinha uma seção que homenageava os donos de bancas de revista: a cada edição saía uma foto de um deles com um pequeno texto, assim, eles colocavam o Jornal do Centro de brinde de encarte dentro das revistas e jornais que as pessoas compravam). A área de distribuição e cobertura de assuntos se estendia da Santa Cecília até O Páteo do Colégio, e da Estação da Luz à igreja da Consolação. A experiência durou 4 anos, até outubro de 1996, o mesmo tempo de vida do Dia e Noite de São José do Rio Preto (entre 1976 e 1980).
A distribuição era feita em cafés, padarias, restaurantes, hotéis, supermercados patrocinadores e até bancas de revistas (tinha uma seção que homenageava os donos de bancas de revista: a cada edição saía uma foto de um deles com um pequeno texto, assim, eles colocavam o Jornal do Centro de brinde de encarte dentro das revistas e jornais que as pessoas compravam). A área de distribuição e cobertura de assuntos se estendia da Santa Cecília até O Páteo do Colégio, e da Estação da Luz à igreja da Consolação. A experiência durou 4 anos, até outubro de 1996, o mesmo tempo de vida do Dia e Noite de São José do Rio Preto (entre 1976 e 1980).
A
demissão do Diário em 1992 foi triste, mas o fechamento (por decisão minha, depois de
dois processos na justiça e dificuldades financeiras) do Jornal do
Centro em 1996, foi o maior trauma. Entrei
em depressão e tive pesadelo até
recentemente, acordava no meio da noite sonhando que estava no
fechamento da edição. Foi um corte na carne da alma.
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Patrocínios como os do Mappin, Citibank, Credicard e McDonald's (que publicava um vale McBatatas na primeira página, para ser recortado e resgatado no restaurante da rua São Bento) eram motivo de grande comemoração: davam prestígio e respaldo ao Jornal do Centro e poderiam atrair outros anúncios. Eram meses de empenho e esforço para se conseguir um desses. |
Em
1995, nós alugamos uma sala numa galeria no centro de São Paulo,
para atender o público, muita gente vinha colocar anúncios
classificados no Jornal do Centro. Só que, em virtude da minha
participação, desde 1991, das reuniões e encontros de fãs da
série de TV e cinema “Jornada nas Estrelas”, a sala do Jornal na
galeria, virou ponto de encontro desse pessoal, que passou a deixar
objetos, posters, revistas, brinquedos, repetidos de suas coleções
do tema, à venda em consignação.
Quando o jornal fechou, nós já havíamos levado duas turmas em excursão a Los Angeles, nos Estados Unidos, para participarem de convenções de “Star Trek”. Eu era o organizador, tradutor e intérprete, para reservar hotel, ingressos para o evento e outros passeios, alugar carro, dirigir e traduzir cardápios em restaurantes para todo mundo, que chegava a 20 pessoas. Além disso, havíamos participado ou ajudado diretamente na organização de encontros em São Paulo. A publicação do fã-clube, o “Diário de Bordo”, era editado por mim (na verdade era um rodízio, a cada edição, alguém editava, entre outros dois jornalistas).
Quando o jornal fechou, nós já havíamos levado duas turmas em excursão a Los Angeles, nos Estados Unidos, para participarem de convenções de “Star Trek”. Eu era o organizador, tradutor e intérprete, para reservar hotel, ingressos para o evento e outros passeios, alugar carro, dirigir e traduzir cardápios em restaurantes para todo mundo, que chegava a 20 pessoas. Além disso, havíamos participado ou ajudado diretamente na organização de encontros em São Paulo. A publicação do fã-clube, o “Diário de Bordo”, era editado por mim (na verdade era um rodízio, a cada edição, alguém editava, entre outros dois jornalistas).
Com o fim do Jornal do Centro, assumimos essa atividade e
inauguramos o “site” www.ussbrazil.com em 1997, com várias ramificações até hoje. Além de Star Trek, adotamos outros temas, como “Xena, a Princesa Guerreira”, sobre o
qual organizei cinco encontros de fãs em São Paulo e fomos a duas
convenções na Califórnia. Fomos a um total de 7 convenções nos
EUA e organizamos ou ajudamos em muitas em São Paulo e até em
Campinas, em Jundiaí e em Santos. Passei a dar entrevistas para jornais, revistas e
programas de TV, jornais de TV e fui entrevistado para o documentário americano "Trekkies 2", falando em inglês, que foi exibido na
Mostra Internacional de Cinema, de São Paulo, em 2005.
Depois que o jornal “A Tribuna”, de Nova Granada passou a ser impresso em
offset, passei a colaborar com uma charge semanal, sobre assuntos
atuais do Brasil, só para não perder o jeito. Para a Carga Pesada,
desde 1990, criei o Bruto, um mascote “todo roxo”, simbolizando o
caminhoneiro, que é como cachorro, que dorme fora de casa e faz xixi
no pneu, e uma paródia do presidente Fernando Collor de Mello, que
disse em um discurso que, quando nasceu tinha o saco roxo, pois era
macho, segundo a tradição nordestina. Então o
caminhoneiro-cachorro era roxo inteiro. Depois de um tempo, o Bruto
ganhou um parceiro para interagir, o gato amarelo (homenagem a meu gato na infância) “Chapa”, que é o intermediário nas
cargas, o sujeito que ganha com o esforço do caminhoneiro.
Um
segundo livro de charges minhas chegou a ser preparado (eu
tenho os fotolitos em algum lugar),
pois a editora (a mesma do livro anterior, a Verbo, que virou Verso)
faliu com o Plano Collor e eu deixei para lá, a vida tomou outros
rumos. Iria de chamar “Nova Ré Publica” e tinha uma caricatura
do José Sarney na capa, marrom (cor que o Sarney odeia), sentado a
uma mesa, com a placa em cima da mesa: “José Ribamar Ferreira de
Araújo Costa – presidente”.
Em
2001, um dos fãs de Star Trek, que me conhecia das convenções (em
algumas, trouxemos atores americanos do seriado para interagir com o
público) e sabia das minhas habilidades de falar em público e em
inglês, assumiu a direção de um programa de TV, “Televestibular”,
na Rede Mundial (da Legião da Boa Vontade). O programa eram aulas de
todas as disciplinas, geografia, história, português etc. Ele
precisava de alguém que desse aula de inglês, mas estava tendo
dificuldade, pois os professores de inglês que tinham feito teste
até então, “travavam” diante da câmera. Ele me convidou para
fazer um teste, fui aprovado, e gravei, sob contrato, 30 programas de
meia-hora, aos sábados. O programa ia ao ar às 7h da manhã de
quartas-feiras, com transmissão a partir de São José dos Campos
para cima. Eu recebi e-mail de “consultas e dúvidas” de
telespectadores de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Talvez o
programa esteja sendo reprisado até hoje, pois o assunto não fica
velho.
Em
2001 também foi o ano que me separei da segunda esposa, mas
mantivemos vários vincos, como o a ussbrazil e a filha. O programa de TV da LBV me “pegou”. Gostei do meio. Fui
fazer alguns cursos: de apresentação de TV, de telejornalismo e de
videorrepórter.
Em
2004, editei um livro para o meu pai, “Santa Casa de Nova Granada –
60 anos”, que foi impresso com patrocínio do Bradesco, cheio de
fotos da história toda. Ele é provedor ainda, desde 1968.
Em
2006, apresentei uma proposta de programa de TV para a
www.alltv.com.br,
uma “emissora de televisão” na internet, com programas ao vivo,
interativos em tempo real, com audiência em qualquer lugar do mundo.
Faz quase 7 anos que, minha amiga do coração (há 11 anos) Vivian Guilhem e eu fazemos o “Programa São” (“são” de
saudável, de sadio), fazendo muita piada, falando de séries de TV,
cinema e desenhos animados, muitas vezes com entrevistados, e
divulgando a ussbrazil (www.ussbrazil.com/programasao),
com uma hora de duração, semanal.
Também
em 2006, influenciado pela namorada (agora esposa e mãe
do meu filho) fui fazer pós-graduação na Cásper Líbero. Em 2009, virei professor universitário (um amigo e aluno de inglês levou meu
currículo para um amigo coordenador pedagógico e tudo começou
daí), primeiro na Estácio (onde ainda faço parte do corpo docente, mas não
me atribuíram aula) e, desde o início de
2012, na FMU (FIAM/FAAM), onde um dos coordenadores é fã de Star Trek,
frequentador de convenções, cliente da ussbrazil, eu o guiei em uma
excursão a uma convenção “trekker” na Califórnia e foi também meu aluno de inglês (e a filha dele, aluna de jornalismo
na FMU, também).
Atualmente,
além das aulas universitárias, das aulas particulares de inglês
(tenho alunos das 7h da manhã até 23h), das ilustrações e
reportagens para a Carga Pesada, do programa semanal na ALLTV, deste blog, das compras e atualizações
do site da ussbrazil e dos quatro filhos (dois humanos e dois gatos), eu acabo de terminar uma tese que ando
escrevendo desde 2009 e que ainda não sei para que seria. O tema é a semelhança dos povos da polinésia (passei a lua-de-mel na
Nova Zelândia, entre os Maõri, na virada de 2007/2008) com os
indígenas brasileiros, tanto nos traços fisionômicos (como os das
minha mulher, que é o Ceará e foi confundida pelos Maõris como
“prima”), como na língua.